Secretário-geral da CNBB diz que Campanha da Fraternidade convoca todos a serem cristãos no mundo da economia
Ou Deus, ou o dinheiro. É a encruzilhada que a Campanha da Fraternidade (CF) apresenta neste ano. Com autorização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) coordena campanha focada em economia com apelo de conversão a todos os cristãos na Quaresma.
A sinalização sobre o melhor caminho a seguir vem da Doutrina Social da Igreja, segundo o secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa. Entre uma reunião e outra em Brasília, o bispo concedeu entrevista por telefone à Revista Canção Nova e pediu um agir cristão para ricos e pobres. “Vale para funcionário, o que vale para um empregador. Ou seja, viver sempre com honestidade, solidariedade, com a capacidade, inclusive, de ver no seu colega um irmão”, aponta.Revista CN - A CF é voltada somente para os cristãos ou para a sociedade em geral?
Dom Dimas - É claro que, como a CF pretende levar as pessoas a viverem bem o espírito da Quaresma em primeiríssimo lugar, levar a um processo de conversão, ela é pensada ao interno da Igreja. E especificamente da Igreja Católica. O que a gente tem percebido da CF em 46 anos é que ela toca assuntos que são fundamentais para a vida da sociedade como tal. Nesse sentido, ela tem muita repercussão. Tanto que nós temos sempre uma sessão solene na Câmara ou no Senado com o tema da CF. E as universidades, escolas, prefeituras, movimentos sociais e outras entidades costumam, conforme o tema, promoverem debates e reflexões e assumirem o texto-base da CF como um ponto de partida para uma reflexão naquele ano. Revista CN - Por que a campanha deste ano está focada em economia?
Dom Dimas - O processo de escolha do tema da CF é muito participativo. Normalmente, com dois anos de antecedência, pastorais, movimentos e os regionais da CNBB começam a se mobilizar. Para esse ano, o processo foi um pouco diferente. Há dois anos, a Assembléia Geral dos Bispos concedeu autorização ao Conic, que fez um pedido expresso de ter mais uma CF Ecumênica – já tivemos duas (em 2000 e 2005) e agora, em 2010, eles queriam essa nova oportunidade. Como a assembléia aceitou, ela confiou a uma comissão organizada pelas igrejas-membro do Conic, com a participação da CNBB evidentemente, mas não sob a coordenação da CNBB. E ali eles devem ter feito um processo parecido.
Revista CN - Ao tratar de economia, a Igreja no Brasil manifesta preferência por algum sistema econômico e rejeita algum outro?
Dom Dimas - Não. Na verdade, hoje praticamente não temos aquela opção que havia até pouco tempo atrás entre o socialismo ou o capitalismo. Com a queda do comunismo real, praticamente existe uma hegemonia do sistema capitalista. Pelo menos no nosso país isso é claro. Se durante muito tempo a Igreja condenou veementemente o aspecto materialista de luta de classe, busca do poder e, sobretudo, a visão imanentista [fechada a Deus] do próprio materialismo dialético e histórico que caracterizava o marxismo, hoje, a concentração da reflexão é a crítica a aspectos danosos do próprio sistema neoliberal que está em vigor no nosso país. Para a Igreja, a economia deve ser sim guiada pela ética. O critério deve ser o bem comum, a dignidade da pessoa, a construção da sociedade justa e solidária e não simplesmente a maximização do lucro ou a busca do mercado pelo mercado.Revista CN - Como esta abordagem econômica se encaixa com a Quaresma, que deve ser um tempo forte de espiritualidade?
Dom Dimas - A CF de forma alguma atrapalha, muito pelo contrário, ajuda profundamente a viver o espírito da Quaresma. Porque, em primeiro lugar, a Liturgia da Quaresma é celebrada como em qualquer outro lugar do mundo. E na Quaresma não existe apenas a celebração da Santa Missa. Você pode fazer vias-sacras, celebrações penitenciais, círculos bíblicos, grupos de famílias, de jovens e tantas outras iniciativas que ajudam as pessoas a refletirem sobre a vida.
Revista CN - Em termos práticos, como esta campanha deve afetar um empresário que queira agir de modo cristão?
Dom Dimas - Eu vejo que o ser empresário não é contraditório com o ser cristão. Absolutamente. Agora, ele vai ter uma responsabilidade muito maior na hora de aplicar a justiça social, de tratar com o mundo do mercado, com a ética. A última coisa que se poderia ver de um empresário cristão é ele oferecer ou receber propinas para conseguir vantagens ou usar de métodos espúrios para poder derrubar seu concorrente, humilhar as pessoas.
Revista CN - Qual é o chamado de conversão a um funcionário?
Dom Dimas - Vale para funcionário, o que vale para um empregador. Ou seja, viver sempre com honestidade, solidariedade, com a capacidade, inclusive, de ver no seu colega um irmão, de estar sempre disposto a ser semeador da Palavra de Deus onde quer que ele esteja. Mas, além disso, a postura de vida, a honestidade, a opção pelos valores éticos, o engajamento profético na denúncia das injustiças, na construção de um mundo justo e solidário é missão de todo discípulo-missionário de Jesus Cristo.
Ou Deus, ou o dinheiro. É a encruzilhada que a Campanha da Fraternidade (CF) apresenta neste ano. Com autorização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) coordena campanha focada em economia com apelo de conversão a todos os cristãos na Quaresma.
A sinalização sobre o melhor caminho a seguir vem da Doutrina Social da Igreja, segundo o secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa. Entre uma reunião e outra em Brasília, o bispo concedeu entrevista por telefone à Revista Canção Nova e pediu um agir cristão para ricos e pobres. “Vale para funcionário, o que vale para um empregador. Ou seja, viver sempre com honestidade, solidariedade, com a capacidade, inclusive, de ver no seu colega um irmão”, aponta.Revista CN - A CF é voltada somente para os cristãos ou para a sociedade em geral?
Dom Dimas - É claro que, como a CF pretende levar as pessoas a viverem bem o espírito da Quaresma em primeiríssimo lugar, levar a um processo de conversão, ela é pensada ao interno da Igreja. E especificamente da Igreja Católica. O que a gente tem percebido da CF em 46 anos é que ela toca assuntos que são fundamentais para a vida da sociedade como tal. Nesse sentido, ela tem muita repercussão. Tanto que nós temos sempre uma sessão solene na Câmara ou no Senado com o tema da CF. E as universidades, escolas, prefeituras, movimentos sociais e outras entidades costumam, conforme o tema, promoverem debates e reflexões e assumirem o texto-base da CF como um ponto de partida para uma reflexão naquele ano. Revista CN - Por que a campanha deste ano está focada em economia?
Dom Dimas - O processo de escolha do tema da CF é muito participativo. Normalmente, com dois anos de antecedência, pastorais, movimentos e os regionais da CNBB começam a se mobilizar. Para esse ano, o processo foi um pouco diferente. Há dois anos, a Assembléia Geral dos Bispos concedeu autorização ao Conic, que fez um pedido expresso de ter mais uma CF Ecumênica – já tivemos duas (em 2000 e 2005) e agora, em 2010, eles queriam essa nova oportunidade. Como a assembléia aceitou, ela confiou a uma comissão organizada pelas igrejas-membro do Conic, com a participação da CNBB evidentemente, mas não sob a coordenação da CNBB. E ali eles devem ter feito um processo parecido.
Revista CN - Ao tratar de economia, a Igreja no Brasil manifesta preferência por algum sistema econômico e rejeita algum outro?
Dom Dimas - Não. Na verdade, hoje praticamente não temos aquela opção que havia até pouco tempo atrás entre o socialismo ou o capitalismo. Com a queda do comunismo real, praticamente existe uma hegemonia do sistema capitalista. Pelo menos no nosso país isso é claro. Se durante muito tempo a Igreja condenou veementemente o aspecto materialista de luta de classe, busca do poder e, sobretudo, a visão imanentista [fechada a Deus] do próprio materialismo dialético e histórico que caracterizava o marxismo, hoje, a concentração da reflexão é a crítica a aspectos danosos do próprio sistema neoliberal que está em vigor no nosso país. Para a Igreja, a economia deve ser sim guiada pela ética. O critério deve ser o bem comum, a dignidade da pessoa, a construção da sociedade justa e solidária e não simplesmente a maximização do lucro ou a busca do mercado pelo mercado.Revista CN - Como esta abordagem econômica se encaixa com a Quaresma, que deve ser um tempo forte de espiritualidade?
Dom Dimas - A CF de forma alguma atrapalha, muito pelo contrário, ajuda profundamente a viver o espírito da Quaresma. Porque, em primeiro lugar, a Liturgia da Quaresma é celebrada como em qualquer outro lugar do mundo. E na Quaresma não existe apenas a celebração da Santa Missa. Você pode fazer vias-sacras, celebrações penitenciais, círculos bíblicos, grupos de famílias, de jovens e tantas outras iniciativas que ajudam as pessoas a refletirem sobre a vida.
Revista CN - Em termos práticos, como esta campanha deve afetar um empresário que queira agir de modo cristão?
Dom Dimas - Eu vejo que o ser empresário não é contraditório com o ser cristão. Absolutamente. Agora, ele vai ter uma responsabilidade muito maior na hora de aplicar a justiça social, de tratar com o mundo do mercado, com a ética. A última coisa que se poderia ver de um empresário cristão é ele oferecer ou receber propinas para conseguir vantagens ou usar de métodos espúrios para poder derrubar seu concorrente, humilhar as pessoas.
Revista CN - Qual é o chamado de conversão a um funcionário?
Dom Dimas - Vale para funcionário, o que vale para um empregador. Ou seja, viver sempre com honestidade, solidariedade, com a capacidade, inclusive, de ver no seu colega um irmão, de estar sempre disposto a ser semeador da Palavra de Deus onde quer que ele esteja. Mas, além disso, a postura de vida, a honestidade, a opção pelos valores éticos, o engajamento profético na denúncia das injustiças, na construção de um mundo justo e solidário é missão de todo discípulo-missionário de Jesus Cristo.
Fonte: cancaonova.com
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